AVEIRO (Rossio)
Gervais Courtellemont para a National Geographic Magazine 1927
AVEIRO (Moliceiro na Ria)
Gervais Courtellemont para a National Geographic Magazine 1927
LEIRIA (Início do séc. XX)
BEIRA ALTA
Aldeia da Carrapichana (Celorico da Beira)
Guy Le Querrec 1974
COIMBRA (Largo da Portagem) anos 50
(Autor não identificado)
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
Nazaré de outros tempos
Fotografia de Artur Pastor.
Poema de Joaquim Pimenta
Poema de Joaquim Pimenta
RETRATOS
E o ranho...
Que do nariz me escorria
E a fome que me atormentava
E eu sofria, eu sofria...
E a sopa...
Dos pobres onde eu comia...
Matava a fome que me matava
E até os dedos lambia.
E as topadas...
Que eu dava, sapatos que não havia,
E a dor que me agastava
Doía muito, doía...
E a roupa...
Só a do corpo existia
E o frio que me trespassava a pele
E eu tremia, tremia...
E o pote...
Onde as necessidades fazia
P'ró vazar no mar eu corria
Duas, três vezes ao dia...
E a água...
E a casa, da torneira não bebia...
Só do cântaro...que na fonte eu enchia
Duas três vezes ao dia
E...quando partia, partia...
E a luz...
De petróleo, o candeeiro me alumia(va)
Os sonhos e me gastou a vista
E acordado, sonhando, eu dormia, dormia...
E a trouxa...
Que eu empenhava vazia...
E o nó que na minha garganta
Me causava tanta azia...
E a lenha...
Que eu do pinhal trazia...
E os sustos que eu apanhava
Com os guardas...e o coração batia, batia...
E os banhos...
Que eu tomava no alguidar e na bacia...
Me lavava e escarquejava
E tão bem que me sabia...
E as gamelas...
De água, que eu no mar enchia
P'ra lavar o peixe no armazém
Do patrão, com meu suor enriquecia...
E os cabazes...
Que transportava à cabeça Praia fora em correria
Três ou quatro, cinco ou seis, à cabeça
Das barcas p'rá lota, a coluna já não sentia...
Cá e lá sem parar até ao romper do dia.
E as viagens...
Que eu então não fazia...
Carro próprio era ironia...Só táxis poucos e camionetas de carreira
E, quando pela primeira vez saía...
Evitava despesas com casamento...E fugia, p'ra perto fugia...
E o peixe...
Que então fora vendia...
Com costais e latões à cabeça...E a pé
As léguas que eu percorria...
E o amor...
Que na taberna bebia,
Chegado a casa batia,
Batia mais forte que o rugir do mar, batia...
E o mar...
Que eu tanto combatia,
Por vezes rude e cruel, outras meigo e dócil
Quão traiçoeiro me engolia...
E a casa...
Tão humilde onde eu vivia...
Coisas só minhas eu tinha
Pois tudo me pertencia...
E o rio...
Onde roupa lavava e estendia...
Carregava tudo à cabeça,
Duas léguas a pé percorria...
E as redes...
Que do mar eu recolhia...
Um lanço de saco cheio,
Ou de barriga vazia.
E os fiados...
Que eu na loja pedia...
Café, açúcar, sal, colorau, azeite...
Tudo p'ra pagar um dia...
E a azeitona...
Na apanha...Sol a sol como doía...
Sem sons de mar, nem cheiro de maresia
Mas fartura de comida, e o campo por companhia.
E a vindima...
Vindimar também sabia...
Já que o mar não dava pão
P'rá vindima também ía.
E os bois...
Puxavam com energia
Os barcos, os homens e o sustento,
Em noites de calmaria.
E o trajo...
Capa negra, tudo negro, luto vestia...
Avental, bordado rico...blusa cor viva,
Sete saias, nas horas de alegria.
E os sustos...
E as preces, quando o mar forte rugia...
E os gritos, e as pragas, e os choros, as agonias...
Meu amor não aparecia...à Virgem tudo oferecia
Sem nada Ter...Por uma hora, por um dia, mentia...
Julho 99 Joaquim Pimenta ( Editado no livro " Nazaré Suas Histórias e Suas Gentes "
E o ranho...
Que do nariz me escorria
E a fome que me atormentava
E eu sofria, eu sofria...
E a sopa...
Dos pobres onde eu comia...
Matava a fome que me matava
E até os dedos lambia.
E as topadas...
Que eu dava, sapatos que não havia,
E a dor que me agastava
Doía muito, doía...
E a roupa...
Só a do corpo existia
E o frio que me trespassava a pele
E eu tremia, tremia...
E o pote...
Onde as necessidades fazia
P'ró vazar no mar eu corria
Duas, três vezes ao dia...
E a água...
E a casa, da torneira não bebia...
Só do cântaro...que na fonte eu enchia
Duas três vezes ao dia
E...quando partia, partia...
E a luz...
De petróleo, o candeeiro me alumia(va)
Os sonhos e me gastou a vista
E acordado, sonhando, eu dormia, dormia...
E a trouxa...
Que eu empenhava vazia...
E o nó que na minha garganta
Me causava tanta azia...
E a lenha...
Que eu do pinhal trazia...
E os sustos que eu apanhava
Com os guardas...e o coração batia, batia...
E os banhos...
Que eu tomava no alguidar e na bacia...
Me lavava e escarquejava
E tão bem que me sabia...
E as gamelas...
De água, que eu no mar enchia
P'ra lavar o peixe no armazém
Do patrão, com meu suor enriquecia...
E os cabazes...
Que transportava à cabeça Praia fora em correria
Três ou quatro, cinco ou seis, à cabeça
Das barcas p'rá lota, a coluna já não sentia...
Cá e lá sem parar até ao romper do dia.
E as viagens...
Que eu então não fazia...
Carro próprio era ironia...Só táxis poucos e camionetas de carreira
E, quando pela primeira vez saía...
Evitava despesas com casamento...E fugia, p'ra perto fugia...
E o peixe...
Que então fora vendia...
Com costais e latões à cabeça...E a pé
As léguas que eu percorria...
E o amor...
Que na taberna bebia,
Chegado a casa batia,
Batia mais forte que o rugir do mar, batia...
E o mar...
Que eu tanto combatia,
Por vezes rude e cruel, outras meigo e dócil
Quão traiçoeiro me engolia...
E a casa...
Tão humilde onde eu vivia...
Coisas só minhas eu tinha
Pois tudo me pertencia...
E o rio...
Onde roupa lavava e estendia...
Carregava tudo à cabeça,
Duas léguas a pé percorria...
E as redes...
Que do mar eu recolhia...
Um lanço de saco cheio,
Ou de barriga vazia.
E os fiados...
Que eu na loja pedia...
Café, açúcar, sal, colorau, azeite...
Tudo p'ra pagar um dia...
E a azeitona...
Na apanha...Sol a sol como doía...
Sem sons de mar, nem cheiro de maresia
Mas fartura de comida, e o campo por companhia.
E a vindima...
Vindimar também sabia...
Já que o mar não dava pão
P'rá vindima também ía.
E os bois...
Puxavam com energia
Os barcos, os homens e o sustento,
Em noites de calmaria.
E o trajo...
Capa negra, tudo negro, luto vestia...
Avental, bordado rico...blusa cor viva,
Sete saias, nas horas de alegria.
E os sustos...
E as preces, quando o mar forte rugia...
E os gritos, e as pragas, e os choros, as agonias...
Meu amor não aparecia...à Virgem tudo oferecia
Sem nada Ter...Por uma hora, por um dia, mentia...
Julho 99 Joaquim Pimenta ( Editado no livro " Nazaré Suas Histórias e Suas Gentes "
terça-feira, 11 de setembro de 2012
LISBOA VELHA
Lisboa Velha
(1925)
EXPLICAÇÃO
Não esquecerei jamais a impressão de
sumptuosidade e de admiração que senti quando, aí por Fevereiro de 1874, vindo
da minha humilde aldeia, entrei em Lisboa.
Não tinha visto até então mais do
que os casebres dos modestíssimos lavradores a cuja família me honro de
pertencer.
A Lisboa do fim do século xix, e
especialmente a cidade baixa, caracterisadamente pombalina, apesar do seu fraco
movimento e da monótona harmonia das suas construções, impressionaram o meu
espírito de provinciano ingénuo, moço e ignorante, como a ultima palavra do
urbanismo estonteante dos capitães.
Começava n'essa ocasião o
assentamento da linha de Carris de Ferro Americanos, do Terreiro do Paço ao
Conde Barão, e existia, não havia muito, a carreira de vapores de rodas para
Alcântara e Belém, de cuja opulenta frota fazia parte o roncador e cuspinhento
vapor Progresso, com seu simbólico titulo de arrojado meio de
transporte, e no qual tantas vezes embarquei.
Conheci eu mui particularmente as
ruas de S. Paulo e da Boa Vista, e com quanto ligassem a parte ocidental da
cidade com a baixa, não eram então, e apesar de tudo, mais movimentadas do que
é hoje qualquer rua dos bairros excêntricos.
Sob o ponto de vista pitoresco,
julgo terem sido estas ruas as mais características, e de mais surpreendente
efeito perspético, o qual lhes vinha do seu arco e da sua longa fila de prédios
desigualmente altos, e em cujas fachadas haviam enxertado remates de variadíssimas
e graciosas curvas — evolução lógica da frontaria típica dos séculos
anteriores.
Breve porem, estas ruas, e as do
resto da cidade, passaram infelizmente pelas maiores e mais desconchavadas
transformações e, mais por perversão do gosto do que por necessidades de facto,
foram as construções pombalinas e os seus lindos pormenores, sendo substituídos
pelas correntezas de banalíssimos casarões de platibanda, cheios de reles
exotismo, os quais, por minha desgraça e de alguns outros, que assim pensam,
somos, quais passageiros deste outro «Progresso» — obrigados, bem
constrangidamente, a olhar todos os dias.
Vêm estas linhas para justificar e
assinalar o desgosto profundo que desde sempre venho sentindo ao ver destruir-se
todo o pitoresco de Lisboa, desgosto hoje corrente, mas que mercê da minha idade
fui, talvez, dos primeiros a sofrer.
Essa sincera mágoa e uma natural e
saudosa atração pelas coisas do passado, levaram-me, desde há trinta anos, a
pintar em aguarelas, a desenhar e a documentar graficamente conforme pude e
soube, todos os pormenores que pouco a pouco iam desaparecendo da fisionomia da
cidade, tarefa onde pus o melhor dos meus esforços e o carinho muito verdadeiro
que consagro ás coisas da minha Terra.
Essa tarefa é este livro — e eu não
sei dizer melhor das suas intenções.
Afonso Lopes Vieira, que me
acompanha com a sua alma de grande poeta e de grande português, melhor do que
eu próprio me explicará.
Daqui pois lhe agradeço do fundo do
coração as palavras com que ilumina as minhas despretensiosas e modestas notas
gráficas.
Roque Gameiro
por AFFONSO LOPES VIEIRA
|
Est. 11 - A Baixa vista do Jardim de S. Pedro de Alcântara | |
Est 21 - Rua do Bemformoso | |
Est. 31 - Rua das Farinhas | |
Est 41 - Princípio das Escadinhas de S. Miguel | |
Est 51 - Escadinhas dos Remédios (Vista de baixo) | |
Est 61 - Rua da Judiaria | |
Est 71 - Casa no Largo do Menino Deus | |
Est 81 - Beco dos Cortumes | |
Est 91 - Escadinhas de S. Cristóvam |
Est. 02 - O Rossio | |
Est. 03 - Na Rua da Mouraria | |
Est. 04 - A Igreja do Triunfo - Alcântara | |
Est. 05 - Calçada da Bica Grande | |
Est. 06 - Casas na Rua do Bemformoso | |
Est. 07 -Junto ao Paço de D. Fernando no Largo da Saúde | |
Est. 08 - Na Rua de S. Miguel - Alfama | |
Est. 09 - Beco do Castelo | |
Est. 10 - Largo da Achada | |
Est. 12 - Rua do Vieira Portuense - Belém | |
Est. 13 - Largo da Saúde e Rua da Mouraria | |
Est. 14 - Rua do Século (antiga Rua Formosa) | |
Est. 15 - Arco de Jesus, ao Campo das Cebolas | |
Est. 16 - Igreja da Penha de França | |
Est. 17 - Escadinhas dos Remédios (vista de cima) | |
Est. 18 - Rua de S. Miguel - Alfama | |
Est. 19 - Detrás da Igreja de S. Miguel | |
Est. 20 - Na Rua dos Remédios | |
Est. 22 - Arco de Penabuquel | |
Est. 23 - Pátio de uma casa na Rua de Castelo Picão | |
Est. 24 - Esquina da Rua de S. Bento e Rua do Sol ao Rato | |
Est. 25 - Paço e muralhas de D. Fernando no Largo da Saúde | |
Est. 26 - Travessa do Terreiro do Trigo | |
Est. 27 - O Arco Escuro | |
Est. 28 - Capela de Nossa Senhora da Guia (Rua da Mouraria) | |
Est. 29 - Entrada para o Pátio de D. Fradique | |
Est. 30 - Beco do Espírito Santo ao Largo do Chafariz de Dentro | |
Est. 32 - Rua do Arco do Marquês do Alegrete (e aguarela que não faz parte deste álbum) | |
Est. 33 - No Largo da Achada | |
Est. 34 - Travessa de S. João da Praça (Vista de cima) | |
Est. 35 - Princípio da Rua do Capelão | |
Est. 36 - Rua das Madres | |
Est. 37 - Rua do Loureiro | |
Est. 38 - Rua de Santo Estêvão | |
Est. 39 - Arco de S. Estêvão (Vista de baixo) | |
Est. 40 - Arco de S. Estêvão (Vista de cima) | |
Est. 42 - Pátio do Prior | |
Est. 43 - Entrada da Rua de S. Miguel - Alfama | |
Est. 44 - Casa quinhentista da Rua dos Cegos | |
Est. 45 - Calçada de S. Vicente | |
Est. 46 - Princípio da Rua de S. Pedro ao Largo do Chafariz de Dentro | |
Est. 47 - Nicho na Calçado do Jogo da Péla | |
Est. 48 - Portal do Convento da Encarnação | |
Est. 49 - Na Rua dos Corvos | |
Est. 50 - Porta Sul do Convento das Francesinhas | |
Est. 52 - Calçada de S. Lourenço vista do Largo dos Trigueiros | |
Est. 53 - Travessa da Portuguesa da Rua do Marechal Saldanha | |
Est. 54 - Rua de S. Miguel Junto à Igreja | |
Est. 55 - Chafariz do Largo de S. Paulo | |
Est. 56 - Chafariz do Largo do Carmo | |
Est. 57 - Rua de S. Pedro Mártir | |
Est. 58 - Rua do Vale (a Jesus) | |
Est. 59 - Largo de Santo Estêvão | |
Est. 60 - Casa dos Bicos | |
Est. 62 - Casa da Rua de Belém | |
Est. 63 - Pátio da Carrasco | |
Est. 64 - Arco de Santo André visto de cima | |
Est. 65 - A Fonte Santa (aos Prazeres) | |
Est. 66 - Casas da Rua Castelo Picão | |
Est. 67 - Igreja de Nossa Senhora de Monserrate (Amoreiras) | |
Est. 68 - Pátio do Peneireiro | |
Est. 69 - Junto ao Cais das Colunas no Terreiro do Paço | |
Est. 70 - Arco de Santo André | |
Est. 72 - A Torre da Ajuda | |
Est. 73 - Igreja de Santa Luzia | |
Est. 74 - Escadinhas de Santo Estêvão | |
Est. 75 - Largo do Menino Deus da Travessa do Açougue | |
Est. 76 - Princípio da Travessa de S. João da Praça | |
Est. 77 - A Torrinha do cimo da Avenida da Liberdade | |
Est. 78 - Rua Possidónio da Silva aos Prazeres | |
Est. 79 - Rua da Galé - Alfama | |
Est. 80 - Rua da Regueira | |
Est. 82 - Largo do Chafariz de Dentro | |
Est. 83 - Restos de praia junto ao Cais do Sodré | |
Est. 84 - Convento da Esperança | |
Est. 85 - Vista dos terramotos para o Alto dos sete Moínhos | |
Est. 86 - A Igreja de Santo Amaro (vista para o Tejo) | |
Est. 87 - Calçada de S. João da Praça | |
Est. 88 - Casas da Rua de S. Pedro (ao Chafariz de Dentro) | |
Est. 89 - Rua de S. Miguel (Alfama) | |
Est. 90 - Casas da Rua da Regueira | |
Est. 92 - Beco dos cortumes (visto de fora) | |
Est. 93 - Rua do Arco a S. Mamede | |
Est. 94 - Chafariz da Rua Formosa | |
Est. 95 - Chafariz das Janelas Verdes | |
Est. 96 - Chafariz da Alegria | |
Est. 97 - Entrada para o Quartel da Cova da Moira | |
Est. 98 - Casas do Largo do Rato | |
Est. 99 - Casas do Largo do Convento da Encarnação | |
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