Poema de Joaquim Pimenta
RETRATOS
E o ranho...
Que do nariz me escorria
E a fome que me atormentava
E eu sofria, eu sofria...
E a sopa...
Dos pobres onde eu comia...
Matava a fome que me matava
E até os dedos lambia.
E as topadas...
Que eu dava, sapatos que não havia,
E a dor que me agastava
Doía muito, doía...
E a roupa...
Só a do corpo existia
E o frio que me trespassava a pele
E eu tremia, tremia...
E o pote...
Onde as necessidades fazia
P'ró vazar no mar eu corria
Duas, três vezes ao dia...
E a água...
E a casa, da torneira não bebia...
Só do cântaro...que na fonte eu enchia
Duas três vezes ao dia
E...quando partia, partia...
E a luz...
De petróleo, o candeeiro me alumia(va)
Os sonhos e me gastou a vista
E acordado, sonhando, eu dormia, dormia...
E a trouxa...
Que eu empenhava vazia...
E o nó que na minha garganta
Me causava tanta azia...
E a lenha...
Que eu do pinhal trazia...
E os sustos que eu apanhava
Com os guardas...e o coração batia, batia...
E os banhos...
Que eu tomava no alguidar e na bacia...
Me lavava e escarquejava
E tão bem que me sabia...
E as gamelas...
De água, que eu no mar enchia
P'ra lavar o peixe no armazém
Do patrão, com meu suor enriquecia...
E os cabazes...
Que transportava à cabeça Praia fora em correria
Três ou quatro, cinco ou seis, à cabeça
Das barcas p'rá lota, a coluna já não sentia...
Cá e lá sem parar até ao romper do dia.
E as viagens...
Que eu então não fazia...
Carro próprio era ironia...Só táxis poucos e camionetas de carreira
E, quando pela primeira vez saía...
Evitava despesas com casamento...E fugia, p'ra perto fugia...
E o peixe...
Que então fora vendia...
Com costais e latões à cabeça...E a pé
As léguas que eu percorria...
E o amor...
Que na taberna bebia,
Chegado a casa batia,
Batia mais forte que o rugir do mar, batia...
E o mar...
Que eu tanto combatia,
Por vezes rude e cruel, outras meigo e dócil
Quão traiçoeiro me engolia...
E a casa...
Tão humilde onde eu vivia...
Coisas só minhas eu tinha
Pois tudo me pertencia...
E o rio...
Onde roupa lavava e estendia...
Carregava tudo à cabeça,
Duas léguas a pé percorria...
E as redes...
Que do mar eu recolhia...
Um lanço de saco cheio,
Ou de barriga vazia.
E os fiados...
Que eu na loja pedia...
Café, açúcar, sal, colorau, azeite...
Tudo p'ra pagar um dia...
E a azeitona...
Na apanha...Sol a sol como doía...
Sem sons de mar, nem cheiro de maresia
Mas fartura de comida, e o campo por companhia.
E a vindima...
Vindimar também sabia...
Já que o mar não dava pão
P'rá vindima também ía.
E os bois...
Puxavam com energia
Os barcos, os homens e o sustento,
Em noites de calmaria.
E o trajo...
Capa negra, tudo negro, luto vestia...
Avental, bordado rico...blusa cor viva,
Sete saias, nas horas de alegria.
E os sustos...
E as preces, quando o mar forte rugia...
E os gritos, e as pragas, e os choros, as agonias...
Meu amor não aparecia...à Virgem tudo oferecia
Sem nada Ter...Por uma hora, por um dia, mentia...
Julho 99 Joaquim Pimenta ( Editado no livro " Nazaré Suas Histórias e Suas Gentes "
E o ranho...
Que do nariz me escorria
E a fome que me atormentava
E eu sofria, eu sofria...
E a sopa...
Dos pobres onde eu comia...
Matava a fome que me matava
E até os dedos lambia.
E as topadas...
Que eu dava, sapatos que não havia,
E a dor que me agastava
Doía muito, doía...
E a roupa...
Só a do corpo existia
E o frio que me trespassava a pele
E eu tremia, tremia...
E o pote...
Onde as necessidades fazia
P'ró vazar no mar eu corria
Duas, três vezes ao dia...
E a água...
E a casa, da torneira não bebia...
Só do cântaro...que na fonte eu enchia
Duas três vezes ao dia
E...quando partia, partia...
E a luz...
De petróleo, o candeeiro me alumia(va)
Os sonhos e me gastou a vista
E acordado, sonhando, eu dormia, dormia...
E a trouxa...
Que eu empenhava vazia...
E o nó que na minha garganta
Me causava tanta azia...
E a lenha...
Que eu do pinhal trazia...
E os sustos que eu apanhava
Com os guardas...e o coração batia, batia...
E os banhos...
Que eu tomava no alguidar e na bacia...
Me lavava e escarquejava
E tão bem que me sabia...
E as gamelas...
De água, que eu no mar enchia
P'ra lavar o peixe no armazém
Do patrão, com meu suor enriquecia...
E os cabazes...
Que transportava à cabeça Praia fora em correria
Três ou quatro, cinco ou seis, à cabeça
Das barcas p'rá lota, a coluna já não sentia...
Cá e lá sem parar até ao romper do dia.
E as viagens...
Que eu então não fazia...
Carro próprio era ironia...Só táxis poucos e camionetas de carreira
E, quando pela primeira vez saía...
Evitava despesas com casamento...E fugia, p'ra perto fugia...
E o peixe...
Que então fora vendia...
Com costais e latões à cabeça...E a pé
As léguas que eu percorria...
E o amor...
Que na taberna bebia,
Chegado a casa batia,
Batia mais forte que o rugir do mar, batia...
E o mar...
Que eu tanto combatia,
Por vezes rude e cruel, outras meigo e dócil
Quão traiçoeiro me engolia...
E a casa...
Tão humilde onde eu vivia...
Coisas só minhas eu tinha
Pois tudo me pertencia...
E o rio...
Onde roupa lavava e estendia...
Carregava tudo à cabeça,
Duas léguas a pé percorria...
E as redes...
Que do mar eu recolhia...
Um lanço de saco cheio,
Ou de barriga vazia.
E os fiados...
Que eu na loja pedia...
Café, açúcar, sal, colorau, azeite...
Tudo p'ra pagar um dia...
E a azeitona...
Na apanha...Sol a sol como doía...
Sem sons de mar, nem cheiro de maresia
Mas fartura de comida, e o campo por companhia.
E a vindima...
Vindimar também sabia...
Já que o mar não dava pão
P'rá vindima também ía.
E os bois...
Puxavam com energia
Os barcos, os homens e o sustento,
Em noites de calmaria.
E o trajo...
Capa negra, tudo negro, luto vestia...
Avental, bordado rico...blusa cor viva,
Sete saias, nas horas de alegria.
E os sustos...
E as preces, quando o mar forte rugia...
E os gritos, e as pragas, e os choros, as agonias...
Meu amor não aparecia...à Virgem tudo oferecia
Sem nada Ter...Por uma hora, por um dia, mentia...
Julho 99 Joaquim Pimenta ( Editado no livro " Nazaré Suas Histórias e Suas Gentes "
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